domingo, 5 de outubro de 2008

Porém alcancei o distinto.

Desprovi-me da alma e segui o que a carne me intuiu.
Larguei a verdade e fui atrás da vontade.
Verdade falsa, não quero mais saber.
Saltei o consciente e admiti o animal em mim.
Enlouqueci, desvairei.
Elevei-me…
Quebrei-te de tal modo, que te desorientei o sangue nas veias.
Grita, grita aos céus e ao dilúvio.
Espírito e escrúpulos, se os tivesses, mentirias para te poupares.
Devorei-te o crânio, privado de ar.
Prostrado no chão, choras, com falta de lágrimas.
Exaltas “por favor, anjo, salva-me”.
Agarro-te pelo pescoço, sentes as minhas garras na tua espinha.
Angustia, vejo-te nos mortiços olhos.
Se crês que sim, mata-me antecipadamente.
Esgazeias a visão para me divisares o génio.
És incapaz de ver cor dentro do assombro.
Exasperas, gemes por perdão ao Senhor.
Que pena que não te ouve, é tarde de mais.
Ficas-te sem tempo, perdes-te a aposta.
Toda a salvação que procuravas virou-te as costas.
A verdade transcende-te, e vais ser redimido por isso.
Superiormente, engulo-te a seco.
Ficas no negro, perduras nas trevas do meu sangue-frio.
Revoltas-te, contrais-te, cedes, morres.
Esotéricas chamas inflamam-me a garganta.
Abrasam-me a vista.
A única coisa que sempre almejei foi a verdade, e olha no que ela me tornou.
Devorou-me as entranhas, tirou-me a certeza, afogou-me a realidade.
Elevei-me…
Ergui-me ao nível dos Deuses.
Juntei-me àqueles que te largaram só.
Fiquei, insanamente á espera de te ver rogar meu nome.
Sou o aclamado Deus sem alma, a besta errante, o monstro com asas.

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